segunda-feira, 21 de abril de 2008

Melhor do que o silêncio só João

Passeado pela internet recebi uma notícia muito boa. Um dos maiores nomes da nossa música resolveu sair de um silêncio que durava quase uma década. João Gilberto vai subir aos palcos em uma homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. Ele fará quatro apresentações em três cidades diferentes. Infelizmente a cidade onde eu moro está fora da rota dos shows dos grandes artistas, e não seria diferente desta vez. As cidades escolhidas foram São Paulo, nos dias 14 e 15 de Agosto, Rio de Janeiro, no dia 24 de Agosto e 05 de Setembro em Salvador. Além das apresentações no Brasil ele tem mais alguns shows agendados no exterior, incluindo no Carnegie Hall, em Nova Iorque – local do lendário concerto da Bossa Nova em 1962, e apresentações no Japão. Quem sabe eu consiga ir a algum dos concertos aqui no Brasil, de preferência lá no Rio, local mais acessível para mim.




E falando em João Gilberto, lembrei de um disco que sinceramente está na minha lista dos melhores da música brasileira. Falo do álbum Amoroso, lançado em 1977.




Esse disco, em minha opinião, é o mais bem acabado do João Gilberto. O arranjo das músicas ficou muito bom, um som que preenche os sete buracos da sua cabeça, e o melhor de tudo é ouvir o João cantando bonito, mais do que em todos os outros álbuns. Oito músicas fazem parte do repertório. Alguns clássicos da Bossa Nova como Wave, Triste e Caminhos Cruzados e clássicos da música mundial como Besame Mucho e Estate. Mas as minhas faixas preferidas são Tim tim por tim tim, um samba com a cara do João e ‘S Wonderful, oportunidade rara de ouvi-lo cantando em inglês. A outra faixa é Zíngaro, composição de Chico Buarque e Tom Jobim, que também é conhecida com o nome Retrato em Branco e Preto, devido a um problema de diferenças de idéias de Chico e Tom, mas isso é outra história.
Fica aí a dica do Amoroso, vale muito a pena escutar. Quanto aos shows, tomara que o João volte sendo o mesmo João, aquele que com sua voz e seu violão encanta todo o público que vai assisti-lo, aquele que reclama do microfone, do ar-condicionado, do barulho da platéia, enfim, João Gilberto.

Faixas do disco:

01-'S Wonderful
(George e Ira Gershwin)
02-Estate
(Bruno Martino - Bruno Brighetti)
03-Tim tim por tim tim
(Geraldo Jacques - Haroldo Barbosa)
04-Besame mucho
(C.Velaquez)
05-Wave
(Tom Jobim)
06-Caminhos cruzados
(Newton Mendonça - Tom Jobim)
07-Triste
(Tom Jobim)
08-Zíngaro
(Chico Buarque - Tom Jobim)

Fui!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Let Jimi take over



“Hendrix toca no Bag O’Nails, na Kingly Street. Vamos lá também. Pete Townshend presente, e Eric Clapton está quase irreconhecível. Acaba de retornar de Paris e parece um elegante dândi francês, cabelo à escovinha e suéter de caxemira bem justa. Na hora em que Hendrix sobe ao palco, o clube está tão quente e lotado que o vapor condensado escorre pelas paredes. O suor também desliza pelas minhas costas quando Hendrix inicia a característica e pesada introdução de “Purple Haze”. Reclamo: “Não estou vendo ele!” Sinto-me desfalecer imprensada na multidão, desejando não ter tomado três potentes doses de tequila. Alguém me ergue sobre os ombros para que eu possa ver o palco. Jovem, muito magro, negro, com o cabelo crespo que o envolve com um halo, Hendrix está com a guitarra pendurada bem baixo e ligeiramente distante do corpo, mas mesmo assim faz com que ela grite de maneira desafiadora, embora não pareça que seus dedos estejam se mexendo. Ele acaba por cair de joelhos e começa a tocar com os dentes. Ficamos espantados. Sinto um pânico momentâneo, achando que ele pode ser eletrocutado. Pete e Eric estão de boca aberta, mas nada dizem, e Hendrix termina com um floreio polifônico de ódio e lamentação. Quando desce do palco para falar com Townshend e Clapton, mostra-se tão tímido e respeitoso que ficamos todo encantados.


Artigo escrito por Penny Valentine, influente crítica da música pop, em 1967.



“Estávamos tocando um dos shows do Experience num clube, no norte da Inglaterra, completamente diferente de Londres. Quando todos viram Noel, Mitch e, em especial, a mim, não sabiam que diabos estava acontecendo. Deviam pensar que éramos de Júpter ou de Saturno. Alguns homens ficavam cochichando sobre ‘aquele negro’ e fazendo comentários bastantes grosseiros a respeito de Noel e Mitch. Continuamos a tocar, e de vez em quando os caras pareciam se descontrair e prestar alguma atenção na música. Eles realmente se animaram na hora de ‘Hey Joe’. Depois que terminamos, um grandalhão de cara vermelha, do tipo brigão, se aproximou de mim e disse: ‘Neguinho, você tem dedos mágicos.’”


Jimi Hendrix



Trechos tirados do livro Jimi Hendrix: a dramática história de uma lenda do rock, Sharon Lawrence.












quinta-feira, 3 de abril de 2008

" E que o Chico Buarque de Hollanda nos resgate..."

Dia desses ouvi uma música no rádio que sinceramente deixou-me muito preocupado. A música era de uma dupla sertaneja de enorme sucesso chamada Vitor e Léo. Não sei qual é o nome dela, e também não interessa saber, mas sei que ela dizia uma coisa assim:

“Que vida boa,
Sapo caiu na lagoa...”


Deixou-me preocupado pelo fato de imaginar até onde vai essa pobreza lírica da música popular brasileira atual. Não sou nenhum grande conhecedor de literatura, mas só de pensar que já tivemos na nossa música poetas e letristas do nível de Chico Buarque, Caetano Veloso e Vinícius de Moraes fazendo sucesso nas rádios e na cabeça do povo, hoje, infelizmente, temos de aturar coisas como essa que eu acabei de citar.

Caetano tem toda razão. Tomara que não só o Chico Buarque nos resgate, mas que novos compositores não tentem e não consigam piorar o que já está muito ruim.


E xeque-mate!