quinta-feira, 24 de julho de 2008

Vitória Bossa Nova

Ontem (quarta-feira) terminou o festival Vitória Bossa Nova, homenagem capixaba aos 50 anos de Bossa Nova. O evento contou com dois participantes do movimento: João Donato tocou na segunda-feira e Roberto Menescal encerrou as apresentações ontem.

Para quem não sabe, o Espírito Santo é um lugar especial para a Bossa Nova. Dois grandes nomes saíram daqui para fazer sucesso entre os principais artistas no Rio de Janeiro. Nara Leão, nascida em Cachoeiro do Itapemirim, grande intérprete e musa do movimento e Roberto Menescal, nascido aqui em Vitória, um dos principais compositores. Além disso, a capital capixaba era freqüentada por muitos artistas bossanovistas. Vinícius de Moraes, principal letrista da Bossa, já esteve por aqui passando alguns dias. A cantora Maysa chegou a morar aqui por alguns anos e João Gilberto, aquele que para mim é a Bossa Nova, passou 20 dias em lua-de-mel aqui em Vitória com a sua primeira esposa, Astrud Evangelina Weinert, que mais tarde gravou dois discos excelentes com João em parceria com o jazzista americano Stan Getz. Passados esses anos, a Bossa Nova ganhou uma homenagem aqui do estado.

Os shows de João Donato e Roberto Menescal foram, de uma maneira geral, bons. Alguns fatos lamentáveis marcaram um pouco as apresentações, começando pela precariedade do som. Muitos ruídos e microfonias atrapalharam aqueles que gostam de prestar atenção em toda a beleza sonora do show, mas, pior que isso, era a conversa entre o público, que se ouvia melhor e com mais intensidade do que os próprios artistas no palco. Fato muito incômodo para quem foi ao local para assistir ao show e até prejudica a cidade para outras possíveis apresentações de outros artistas. Mesmo assim eu gostei de estar lá, não poderia perder de forma alguma a oportunidade de assisti-los, de ouvir mais uma vez a boa música brasileira.

João Donato Apresentou-se com sua banda e o show foi o mais afetado pelos problemas que eu citei acima, e pelo fato de ser um show mais instrumental, não teve muita repercussão do público. Já o show do Menescal foi um pouco mais tranqüilo, onde ele cantou composições mais populares, algumas próprias que foram sucesso na Bossa Nova como O Barquinho e Você. Além disso, cantou outros sucessos como Meditação, Samba de Verão (Summer Samba) e o clássico Chega de Saudade. Isso fez o show um pouco mais agradável ao público. Roberto Menescal se apresentou com a Cantora Wanda Sá. A música local também esteve presente. Afonso Abreu Trio fizeram uma excelente apresentação como abertura do show de João Donato. As cantoras Eliane Gonzaga e Andréia Ramos, acompanhadas de grandes músicos, dentre eles o baixista Ney Conceição e o pianista Pedro Alcântara, abriram o show do Menescal e Wanda Sá.

Só espero que eventos como esses não deixem de acontecer por aqui. Será que teremos que esperar mais 50 anos para poder presenciar mais homenagens e mais shows de Bossa Nova?


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Banda Larga Cordel



Após essa época de sufoco na faculdade, enfim, o bloqueio mental acabou e estou aqui de volta.

Nesta semana chegou às lojas o novo álbum do Gilberto Gil, o Banda Larga Cordel. Depois de 11 anos sem lançar algo inédito, desde o álbum Quanta (1997), Gil se movimentou, e já estava mais do que na hora de mostrar algo novo para nós, fãs de sua música. Ainda não adquiri o CD, mas, graças à internet, já tive a oportunidade de ouvir e, sinceramente, gostei do que ouvi.

Os fãs já acostumados com a musicalidade do Gil, totalmente exacerbada, típico de sua veia tropicalista, não acharão nada de diferente neste álbum, que segue bem o estilo que ele veio apresentando em seus últimos álbuns, no caso, uma mistura de Reggae, encontrada no álbum Kaya N’Gan Daya (2002), disco de covers de Bob Marley, e uma sonoridade em um estilo nordestino, forró, xote, apresentadas nos álbuns São João Vivo (2001) e Gilberto Gil e as Canções de Eu, Tu, Eles (2000). Este último, disco de versões que ele fez para a trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles (2000). O Gil disse que algumas canções têm um tema poético popular, nordestino, um estilo que se relaciona diretamente com a poesia de cordel. Além de alguns sambas, o álbum tem recursos eletrônicos também presentes, já que a expressão Banda Larga remete a tecnologia.

O disco contém 16 faixas e ressalto algumas aqui. A primeira do disco é intitulada Despedida de Solteira. A música é um xote, uma letra que, segundo Gil, é bem maliciosa. Uma história divertida que fala de uma mulher que casa com outra mulher. A segunda, Os Pais, tem uma sonoridade mais pop/rock, e um tema que fala de regras, repressão e liberdades. Não Grude Não é a terceira música do disco e é um forró que ele fez para o filme O Homem que Desafiou o Diabo, do diretor Moacyr Gomes.

O disco segue com dois sambas, duas regravações. A primeira é Formosa, uma das parcerias de Vinícius de Moraes com o grande violonista Baden Powell. A segunda é uma nova roupagem para a faixa Samba de Los Angeles, feita pelo próprio Gilberto Gil, mas já gravada por ele no disco Nightingale, em 1979. Tem a faixa La Renaissance Africaine, com um ritmo mais eletrônico, uma letra em francês. Música feita por encomenda para o festival de artes negras que acontecerá em 2009 na África do Sul. A bela poesia de Olho Mágico, sétima faixa, mostra que Gil ainda não perdeu aquele jeito de brincar com as palavras.

Outra música que eu gosto muito é Minha Gueixa no Tatame. Um samba animado que tem o mesmo arranjo melódico da música Minha Nega na Janela, do disco Antologia Samba-Choro (1978), parceria de Gil com Germano Mathias. Máquina de Ritmo, décima quarta do disco, é um das favoritas. A primeira vez que ouvi foi no DVD Outros Bárbaros, versão mais atual dos saudosos Doces Bárbaros, composto por Caetano, Gil, Gal e Bethânia. É um samba onde Gil fala da oposição das pessoas contra a máquina de ritmo, aparelho usado por alguns músicos, e faz uma argumentação a favor dos progressos da música, mostrando mais uma vez a sua veia tropicalista.

E, para terminar, a faixa título do álbum, Banda Larga Cordel. Gil define como a mais politizada do disco, onde ele faz uma apologia às tecnologias, uma mistura entre poesia e política.

Logicamente, a melhor forma de comprovar tudo isso que falei é escutando o Banda Larga Cordel. Pela WEB existem vários sites que disponibilizam os links para Dowload. Clique aqui e ouça na íntegra as faixas do disco no site do Gilberto Gil.

Este outro link vai para o site do disco. Lá contém mais informações sobre ele, além de vídeos da turnê, entrevistas e fotos. Vale a pena conferir.


Fui.