quinta-feira, 17 de abril de 2008

Let Jimi take over



“Hendrix toca no Bag O’Nails, na Kingly Street. Vamos lá também. Pete Townshend presente, e Eric Clapton está quase irreconhecível. Acaba de retornar de Paris e parece um elegante dândi francês, cabelo à escovinha e suéter de caxemira bem justa. Na hora em que Hendrix sobe ao palco, o clube está tão quente e lotado que o vapor condensado escorre pelas paredes. O suor também desliza pelas minhas costas quando Hendrix inicia a característica e pesada introdução de “Purple Haze”. Reclamo: “Não estou vendo ele!” Sinto-me desfalecer imprensada na multidão, desejando não ter tomado três potentes doses de tequila. Alguém me ergue sobre os ombros para que eu possa ver o palco. Jovem, muito magro, negro, com o cabelo crespo que o envolve com um halo, Hendrix está com a guitarra pendurada bem baixo e ligeiramente distante do corpo, mas mesmo assim faz com que ela grite de maneira desafiadora, embora não pareça que seus dedos estejam se mexendo. Ele acaba por cair de joelhos e começa a tocar com os dentes. Ficamos espantados. Sinto um pânico momentâneo, achando que ele pode ser eletrocutado. Pete e Eric estão de boca aberta, mas nada dizem, e Hendrix termina com um floreio polifônico de ódio e lamentação. Quando desce do palco para falar com Townshend e Clapton, mostra-se tão tímido e respeitoso que ficamos todo encantados.


Artigo escrito por Penny Valentine, influente crítica da música pop, em 1967.



“Estávamos tocando um dos shows do Experience num clube, no norte da Inglaterra, completamente diferente de Londres. Quando todos viram Noel, Mitch e, em especial, a mim, não sabiam que diabos estava acontecendo. Deviam pensar que éramos de Júpter ou de Saturno. Alguns homens ficavam cochichando sobre ‘aquele negro’ e fazendo comentários bastantes grosseiros a respeito de Noel e Mitch. Continuamos a tocar, e de vez em quando os caras pareciam se descontrair e prestar alguma atenção na música. Eles realmente se animaram na hora de ‘Hey Joe’. Depois que terminamos, um grandalhão de cara vermelha, do tipo brigão, se aproximou de mim e disse: ‘Neguinho, você tem dedos mágicos.’”


Jimi Hendrix



Trechos tirados do livro Jimi Hendrix: a dramática história de uma lenda do rock, Sharon Lawrence.












5 comentários:

Anônimo disse...

Jimi Hendrix era sinistro...
quer dizer, ainda é!!!

Vitor Nascimento disse...

mezzo gay o comentário do grandalhão: "neguinho, voce tem dedos mágicos"
mas esse "neguinho" era/é desgraçado mesmo... puta que o pariu

Renan Bono disse...

pois é, Bernah...

a frase "Let Jimi take over" pode ser traduzida como "Deixe Jimi assunmir o comando", dita por ele mesmo antes de solar na música Fire.

se o homen assumir o comando...aí você já viu, né?

Renan Bono disse...

hahahaha

pois é, Vitor...o comentário do grandalhão foi terrível, mas os dedinhos do Hendrix poderiam estar expostos no museu Britânico, ou lá no Louvre. Menos aqui no Brasil...corre risco de ser roubado.

hehe.

bernard disse...

"O que é Importante? Minha música e minha mente é o que conta. Quanto a elas, me sinto ilimitado. Tentei sempre fazer minha música honestamente e se as pessoas não me entendem, é porque não ouviram direito. Até "EIectric Ladyland" eu queria basicamente pintar paisagens do céu e da terra com a guitarra para as pessoas se soltarem dentro delas. Sofri muitas mudanças, descobri muitas coisas que ainda não contei. Gostaria agora de pintar a realidade de uma forma simbólica capaz de levar as pessoas a pensar.
Eu sou tantas raças.. como poderia tocar uma música... como poderia trair uma dessas raças, se eu sou todas elas ao mesmo tempo? Tenho pensado multo sobre o futuro , sobre essa era em declínio. Mas não quero acabar, quero continuar, vá para onde for o futuro.
Talvez escrevendo mais para os outros, fazendo arranjos. Talvez com uma orquestra ... não uma dúzia de harpas e violinos mas uma banda de verdade para que eu possa reger músicos competentes... e talvez algo visual como filme ou slides que alarguem aquilo que a música quer dizer. Assim tudo poderia ser novo, excitante. Acho que é isso que virá. Música é tão importante agora. Política já teve sua importância e é a música e as artes que vão mudar o mundo. Aprecio Straus e Wagner - eles são muito bons. Acho que servirão de base dessa minha nova música.
Mas acima de tudo, quero "blues" e um pouco de western tudo misturado. Estamos tentando fazer um terceiro mundo acontecer mas ainda há tanta coisa para aprender, tanta coisa nova para fazer. Como o mundo, a música está ficando pesada demais... quando, como o mundo, a música fica assim pesada eu simplesmente quero me chamar hélio, o gás mais leve que o homem conhece".
Isso foi em sua última entrevista.

Isso está num artigo do Rogério Sganzerla, se tiver curioso pra ler tudo, aí vai o link: http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/sganzerla/frame_arquivos.htm

Dá pra dizer alguma cosia depois de palavras como esssas?
Talvez o nosso arrebatamento diante de tal gênio seja a única coisa que nos reste.